Mallu e o Pitanga

12:56 Raquel 0 Comments


Sem dúvida, Mallu Magalhães cresceu. Ela amadureceu musicalmente. Não é só na aparência que a menina-mulher se envaideceu. Com melodias mais trabalhadas e muito mais instrumentos, Mallu deixou a infância para trás, definitivamente. E, ainda bem, muitos dos sussurros e gemidos se foram nesse novo trabalho intitulado “Pitanga”.

O álbum todo é ótimo, mas a música que mais me impressiona é “Por que você faz assim comigo?”. Quase que sinto a dor que ela sente. E o que canta (sem gemer, olha só!) com a angústia de quem perdeu algo bom. Uma música quando é boa, nos transporta para onde o cantor/compositor está. Estive lá, em frente ao mar, pedindo mais sorte e aprendendo a navegar na imensidão da vida, me tornando mais forte, mesmo sendo tão pequenina perto do tamanho das coisas que acontecem a minha volta.

E tem as mãos do Camelo ali, em cada verso, cada estrofe, cada palavra; na cadência das batidas, na nostalgia que a melodia traz. Não necessariamente ele seja a causa de toda a dor de Mallu. Aliás, não acredito que seja. Sinto que ele é o mar a quem ela pede sorte, ele é quem a faz ser maior e mais forte. Talvez a decepção tenha vindo por alguém muito próximo, não tem como saber.

A maturidade lhe bate como as ondas que quebram no mar. "Talvez eu seja pequena, lhe cause tanto problema que já não lhe cabe me cuidar. Talvez eu deva ser forte, pedir ao mar por mais sorte e aprender a navegar."
"Pitanga" (2011)
O resto do álbum é calmo, límpido. Ela traz mais firmeza na voz, mais maturidade que, realmente, só viria com o tempo. Tenho a impressão constante de que esse álbum é o ato de sair de um casulo, de tirar uma blusa que não lhe serve mais, da qual ela se sentia desconfortável. Mallu se sente mais segura em cantar e em compor. Nada de “Tchubarubas”, ela canta para o “seu moreno”, ela canta sobre a dor e sobre a sorte. 

Como não podia ser diferente, metade do álbum é em inglês. Nada mais justo, afinal suas maiores influências são gringas, tais como Bob Dylan e companhia. Mas ela mescla, ora inglês, ora português, tudo na mesma canção.

Em “Highly Sensitive” surge uma voz forte e seca. É Magalhães reafirmando sua confiança. “Ô, Ana” é como se Marcelo Camelo pegasse Mallu pela mão e caminhassem juntos. É como se a voz suave de Mallu, na verdade, fosse Camelo personificado. "Olha só, moreno" é uma ode ao amor. Te dá vontade de sair se apaixonando pelo tal moreno do cabelo enroladinho, só para dizer-lhe que amar devagarinho é bem melhor. É uma canção deliciosa em que me perdi nas horas, apesar de ter os curtos 3:13 que passam sorrateiramente pelos ouvidos.

Eu poderia dizer que “Pitanga” é o “Toque Dela” parte dois. É um amor que se completa por si e por música. Por letra e melodia. Talvez disseram à Mallu Magalhães “cresça e apareça!” e lá foi ela cumprir seu desafio. Ela cresceu, apareceu e me parece muito bem, obrigada.

Ouça o "Pitanga" na íntegra:



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At last...eu tenho a música

12:17 Raquel 0 Comments


Soube que a Etta James tá bem mal de saúde. E sinto que é mais um talento que parte deixando seu imenso legado. Ainda bem que a música é imortal e basta apertarmos o "play" para ouvir de novo e de novo.

Eu tive a oportunidade de conhecer uma música tão intensa que se chama "Soul", que mexe com a alma mesmo, que arrepia e que emociona.

Eu tive a oportunidade de conhecer Etta James, Aretha Franklin, Nina Simone, Ella Fitzgerald, Billie Holliday, Nat King Cole, Louis Armstrong, Ray Charles, Miles Davis e Ottis Redding. E muitos outros, claro. Tive a oportunidade de ouvir vozes marcantes e timbres inesquecíveis. E agradeço por cada compasso, cada trompete, cada refrão.

Agradeço por cada sorriso e por cada lágrima. Cada canção que mexe comigo de uma forma particular. Agradeço por afiar e afinar meus ouvidos e agradeço por ser atemporal. Por seu puro e ser especial.

Obrigada pelo Jazz, pelo Soul, pelo R&B, pelas Big Bands. Por Sinatra, por Tony Bennett. Obrigada por nos dar Amy Winehouse, Mayer Hawthorne, John Legend, Jamie Cullum, Adele, Raphael Saadiq e Joss Stone.

Obrigada por fazer da música um "lugar" mais rico e emocional.

At Last - Etta James


Someone to Watch Over Me - Ella Fitzgerald


A Change is Gonna Come - Otis Redding

I've Got a Woman - Ray Charles

L-O-V-E - Nat King Cole


Chain of Fools - Aretha Franklin


I Put a Spell on You - Nina Simone

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Meia-Noite em Paris, a pílula do passado

21:16 Raquel 1 Comments



Seria pobre e esdrúxulo comparar Meia-Noite em Paris com A Origem. Seria mais esdrúxulo e mais pobre ainda dizer que Meia-Noite em Paris é quase um A Origem Artística.  Mas o que seria de mim, senão um ser pobre e esdrúxulo e completamente invejoso de Woody Allen a esse ponto.

Eu digo que a “Golden Age” foram os 50’s e 60’s.  Eu sempre digo que nasci na era errada. Que faço parte de uma sociedade de valores distorcidos e que não me encaixo no quadro geral. Mas será? Allen me fez perceber que talvez eu seja nostalgicamente chata e previsível. E que apreciar meus tempos em que posso desfrutar de “ informação a rodo”  e facilidades aos milhares também pode ser agradável e, digamos, mais saudável.

Saudar e apreciar os feitos do passado, são parte da trajetória. Afinal, tudo o que temos e somos é uma soma de “eu deveria ter nascido 40 anos atrás e por isso vou atrás de algo novo tentando reviver o velho”. Por isso digo que Meia-Noite em Paris é um A Origem artística. Porque o personagem se embrenha dentro dos próprios sonhos e desejos e depois dentro dos sonhos e desejos de quem ele deseja. É quando a epifânia vem, é quando ele percebe que não há fim e que todos, em qualquer momento estão presos ao passado de certa forma. Seja um passado recente, de não ter ficado em Paris da primeira vez em que ali esteve ou de um passado que ele não tinha vivido até então, do qual desconhecia a verdade.

Já disse que invejo Woody Allen profundamente? Ele faz uma autocrítica e se realiza ao mesmo tempo. Ele também é saudosista e isso transborda em cada cena que presenciamos durante o filme. Ali, na pele de Owen Wilson, de Gil Pender, está Woody. O mesmo andar, a mesma acidez, as mesmas pausas dramáticas entre as falas, os mesmos medos e os mesmos anseios.

BAM! De repente são 20. De repente Dali está entusiasmado com rinocerontes e Picasso preocupado com sua amante que partiu. E Hemingway? Quando abre a boca, é como se estivéssemos lendo seus livros! Mergulhamos em livros que são reescritos conforme Gil se “intromete” na vida dos boêmios. Mergulhamos em pura e simples história, mas que, diferente de assistir a uma biografia de Gertrudes Stein, nem ela, nem nenhum dos grandes artistas são os protagonistas. São só parte da paisagem que se molda para receber o homem vindo do futuro, que por sua vez é tão nostálgico que se adapta instantaneamente ao cenário.

Gil entrega um Valium para Zelda Fitzgerald e ela se questiona: “o que é isso? Eu nunca ouvi falar em Valium!” e ele rebate: “é a pílula do futuro.”. Porque nos anos 20, a melancolia se resolvia com álcool ou suicídio. No futuro, demos solução aos angustiados. Um choque cultural e de épocas, mas que, ao mesmo tempo, se encaixam perfeitamente.

Toda a história presente do protagonista não passa de plano de fundo, de passado para o que está acontecendo com ele. A concepção de voltar ao passado é absurda, mas nos entretemos junto ao Gil na esperança de entender um pouco mais. Chego a torcer veementemente para que ele fique com Adriana que se perde na Belle Époque e, ao contrario de Pender, não resiste ao charme que o passado pode trazer. É absurda e majestosa essa discreta máquina do tempo representada por um antigo táxi. E há veracidade mostrada quando o detetive contratado para seguir Gil também fica preso no passado.

Desculpem-me os realistas, mas nostalgia é essencial. O romance e magia de Paris nos deixa a ver navios quando estamos oceanos de distancia. Culturas de distancia da Terra Prometida pela legião artística que habita as ruas e cafés da Cidade Luz.

E aos imediatistas, seguidores de Steve Jobs da Geração Y, eu diria: Cuidado, Nata Intelectualóide Geek Fashionista de Seriados Americanos e Quadrinhos da Melhor Banda da Última Semana, como já diria o grande compositor Criolo, em seu perfeito Criolês: “e quem se julga nata, cuidado pá num quaiá”. Que foi? Não entendeu? Pergunte a voz da experiência. Novo, velho, bom, ruim, vanguardista, copista, Flintstones ou Jetsons, por que não? Afinal somos novos, inéditos, mas até quando? Somos o agora, mas só há o agora porque já houve o antes, que só agora é antes porque antes era agora.

Eu adoro a Apple e o Frank Sinatra, posso? Mas claro. O que seria da Apple se não fosse Adão ou se a bendita fruta não caísse na cabeça de Newton? E o que seria de Jamie Cullum sem Sinatra?

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Descobrindo Ben Sollee

16:48 Raquel 0 Comments



Às vezes escolhemos encher nossas vidas com arte. Arte pura e inocente. E às vezes nos deixamos sentir por batidas e assobios, por ondas de eletro-magnificiência.  Cheia de sentidos que enche nossos vazios corpos com o brilho de uma canção.

Nada nos faz parar na imensidão de uma voz que nos guia como um pastor guia suas ovelhas. Como somos carregados por um ruído que sai de todos os lados. E nos sentimos preenchidos de algo mais do que entranhas. Nos sentimos elevados e perdidos em algo que possivelmente nunca entenderemos.

Perdoem-me o raciocínio descompassado em que meto vocês dentro desse post. Não há nada mais difícil do que explicar a reação ao conhecer ruídos novos, dos quais lhe pareciam impossíveis de serem criados. Eu poderia passar horas tentando descrever o que é para mim ouvi-los, mas nem assim  seria eficaz.
E então eu conheci, por um bom acaso do destino,  o trabalho do Ben Sollee. Não sei se seria justo com ele e com nós chamar o que ele faz de trabalho. Deveríamos chamá-lo de prazer ou inspiração, ou talvez deveríamos chamá-lo exatamente de trabalho, se contarmos quanto esmero foi aplicado em sua arte.

Eu estava fuçando, de curiosa que sou, algumas músicas novas na internet, quando “esbarrei” com um vídeo de 13 minutos e pouquinho do Ben Sollee no canal da NPR Music no Youtube. A série se chama “Tiny Desk Concerts” e traz bons artistas para tocar 3 ou 4 músicas em um clima bem introspectivo. Veja bem, vejo a necessidade de lhes dizer onde e como tomei consciência de Ben Sollee antes de qualquer introdução sobre o mesmo. Acho essencial saber a quais circunstâncias se encontravam a surpresa e o surpreendido.

Sentado de maneira desajeitada com seus óculos de aros escuros e seu cello em mãos ele cantava “Hurting” e eu parei qualquer coisa que estava fazendo naquele momento para dedicar olhos, ouvidos e todos os outros sentidos exclusivamente àquela pequena janela em encantava com poucos recursos e muita aptidão. E eu me vi raptada pela melodia. Como um faminto busca por alimento eu procurava instintivamente por qualquer que fosse a informação que eu poderia colher sobre Ben.
Foram álbuns, músicas, participações. E toda a emoção que transborda do visceral “Inclusions” (2011) ou todo o ritmo que permeia o “Learning to Bend” (2008).  É como se tudo estivesse em seu estado cru e mesmo assim de refinado gosto.  Como se equilíbrio e piração fossem filhos de mesmo pai e mesma mãe. Como se eu pulasse de paraquedas para saber o verdadeiro sentido das coisas simples e fáceis. Voar para saber o que esperar no chão.

Ben arranha as cordas de seu cello para produzir uma musica que não é a erudita. Bach não toca por aqui, mas o que ouvimos é o apelo gutural de cordas que estremecem para nos mostrar o que quem as toca tem a real necessidade de dizer. Mesmo que sua boca se mantivesse fechada, saberíamos, mas ela se abre também e sua voz é suave. Hora é confortante dançar ao som de sua música, noutra é quase impossível ouvir tudo aquilo e não se apertar, por instantes que sejam, de ansiedade.
E pela primeira vez não me importa de onde vem, quantos anos tem ou coisa assim. Eu o enxergo por meio de sua música e me basta. Longe da perfeição maculada dos roqueiros que esbanjam de seu “mojo” para conquistar fidelidade auditiva.

Para ser sincera, eu não faço ideia de quanto tempo já estou sentada de frente para o computador tentando escrever algo que sirva como explicação. É muito provável que toda essa minha descrição  pouco articulada não convença a você, leitor, a procurar mais sobre Ben Sollee. Ou, exatamente o oposto. Por não prover devidamente o que deveria quando comecei esse post, seja de sua inteira vontade de ouvir por si só e tentar dizer o que eu não consegui. Lá se vão 3.343 toques e nenhum sentido.

Vou terminar como deveria ter começado, afinal. Com a música. Essa que se auto explica e me descomplica nessa confusão toda.


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Ui, rapidinhas! - Does Mick moves like this?

19:56 Raquel 0 Comments


Owié, bêibe!

Well, eu gosto de Maroon 5. Diga o que quiser. Eu GOSTO de Maroon 5. É bom, é divertido e o Adam Levine...ok, vamos a música?

Depois do Adam se juntar a mais umas pessoas aí para um reality show chamado The Voice que, olha só que novidade, procura A voz dos EUA ou whatever. Como companheira de júri o vocalista do Maroon 5 tem a Christina Aguilera. Então, rolavam boatos de que os dois não e davam muito bem. Pois bem, como resposta eles resolveram lançar um single. Aliás, quem lança o single é o Maroon 5, a Xtina só participa.

"Moves Like Jagger" me faz querer me mover como o Mick Jagger MESMO. É muito boa, daquelas que fica no repeat eterno e mais além. Grudentinha merrrmo. Boa demais.

Então vem comigo no batidão do Mick Jagger com o Bonde do Maroon 5. Vem viciar você também, vem!


Parece que o vídeo dessa música que traz a participação mais que especial do próprio 'muso' Mick Jagger já saiu por lá, mas não temos acesso em terras tuiniquins. Tô pagando pra ver essa!

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Ui, rapidinhas! - Você não é aquele cara? Daquela banda? Oasis?

16:52 Raquel 0 Comments



Posso falar que o Noel sempre foi meu irmão Gallagher favorito? Posso falar que o trabalho dele solo é mais legal que o trabalho da banda nova do Liam, o Beady Eye? Posso falar também que ambos parecem ter saído de um álbum do Oasis? Ah, ok. Parei.

De fato, The Death of You And Me parece ter saído de um álbum do Oasis. Não que isso seja ruim, adoro o Oasis. E de fato, novamente, essa música tem muito mais 'tchans' que qualquer uma do Beady Eye.

Bom, curte aí a nova do Noel voando solo e me conta depois se não te lembra os áureos tempos do Oasis. Você tira os caras da banda, mas não tira a sementinha da banda de dentro deles. Uma vez Flamengo, Flamengo até morrer...e essas coisas todas.

Noel Gallagher’s High Flying Birds - The Death of You and Me

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Chupa essa Universo, literalmente

22:45 Raquel 0 Comments


Estava na dúvida se fazia desse post uma resenha sobre o (nem tão) novo (assim) do Arctic Monkeys ou simplesmente jogaria conversa fora sobre como bandas boas podem ser tão sem-sal-nem-açúcar às vezes.

Não tenho o costume de fazer resenhas sobre álbuns neutros. Mas fiquei tão surpresa ao me deparar com o Suck it and See que me vi em uma encruzilhada entre o "finjo que não ouvi" e o "tenho que comentar tal embaraço".

Não vou dizer que é um álbum ruim de se ouvir, muito pelo contrário, é agradabilíssimo. Vai ver esse é o problema. Agradável, mediano, insosso.

Nothing out of the box. E se tratando de Arctic Monkeys, isso é muito sério. O tio Josh Homme deixou seu recado bem gravado na cabeça dos ingleses. Tanto que os riffs, que praticamente tem os lindos dedos tatuados do ruivo do QOTSA, estão lá o tempo todo. A 'sugeirisse', o obscuro, está tudo lá. Até o Alex Turner resolveu cantar mais rouquinho. Maaaas...

O fato é que é mais do mesmo. Fiquei com a constante sensação do "a próxima é a reveladora, que vai fazer tudo valer a pena". Não sei vocês, meu amigos, mas eu estou até agora esperando pela salvadora da pátria.

Tirando a "Don't sit down 'cause I moved your chair", que, aliás, foi muito bem escolhida como primeiro single, o resto das músicas sempre me lembram de outra banda e nunca o Arctic Monkeys em si. Acompanho a trupe de Alex Turner já faz uns 5 anos e nunca me imaginei dizendo: boring. Mas aí está. Chato.

É um álbum calmo depois da tempestade que foi o Humbug. Era de se esperar que os meninos se aquietassem e dessem uma respirada. Mas achei que podia ser um calmo revelador como Iron & Wine e não um calmo 'just because' como se fosse a trilha internacional da novela das dezoito.

Talvez esse seja um daqueles discos incompreendidos em que preciso escutar pelo menos umas 47 vezes até descobrir nele um diamante por trás de tanta lama. (Que exageeero!) Mas vou continuar tentando...

Se for citar preferidas, teria que dizer a já muito citada "don't sit down..." e "Reckless Serenade".



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Samba-em-Sampa-de-Criolo-Doido

20:45 Raquel 0 Comments



Levei as mão a cabeça por um desespero lânguido da repentina perda de sono. Como se já não bastasse, ficarei a noite inteira com essas notas reverberando em meus ouvidos.

E é assim que começo uma singela resenha do disco que escuto em looping nesse momento. "Nó na Orelha" do Criolo (Clica no link, vai. Lá tem link pro download do álbum).

A primeira vez que ouvi uma música do Criolo foi dia 29 de maio. Entrei em um site que, em sua playlist, tinha "Subirusdoistiozin"e fiquei impressionada com a forma como ele se utilizava das palavras, como um Adoniran Barbosa do séc. 21, o Adoniran do Grajaú. Pensei "o cara é bom...".

Hoje resolvi procurar o álbum inteiro e me impressionei mais ainda. Muito, muito mais. A cena que descrevo no começo desse post é exatamente minha reação ao ouvir "Não existe amor em SP". Quem é esse cara, meu? Quem é ele para me deixar 'de cara' desse jeito? Pois é. Que sonoridade é aquela? 
"Não existe amor em SP Os bares estão cheios de almas tão vaziasA ganância vibra, a vaidade excita"
E o que ele diz, usando a resposta crua e a única cabível a verdade que poucos trazem.

Hoje um paradigma foi quebrado. Minha cabeça ainda roda como em uma máquina de lavar, meu radar sensível a um mundo que me recusava a mergulhar. O rap brasileiro, cantado no português de nomes constuídos a partir do concreto frio de sampaulo. Criolo, Emicida é outro que estou aprendendo a escutar. Ainda me faltam caminhos longos para conhecer, mas agora sei que é um caminho válido a acompanhar.

O que me deixa mais intrigada é que faz 20 anos que o Criolo faz música. 20 anos é quase o quanto eu tenho de vida. Ele faz isso por uma vida e só agora caiu na graça dos hypados.

Daniel Granjaman, do Instituto e Marcelo Cabral são os responsáveis pela produção do disco. Óbvio, os caras são bons. Metais, batidas pulsantes e affrobeat complementam e enchem as letras de Criolo com perfeição. Mas se 90% do talento que o Criolo faltasse, esse disco não seria nem 2% do que é. Estatísticas e probabilidades a parte, o " Nó na Orelha" é pra dar nó na orelha, na garganta e no cérebro. Pra quem não tem o custume de ouvir rap, como eu, é de dar nó na vida. Virar de cabeça pra baixo. É só abrir os olhos, os ouvidos e derrubar todas as paredes que te impedem de entender coisas que fogem da bolha em que você vive. Deixe que a bolha se desfaça. Deixe que as batidas, que vão do rap "tradicional" a balada brega, passando pelo samba e pela mpb, invadam e preencham os espaços deixados pelo pré-conceito e pela aversão ao novo. Ouça o bom uso de metais, pandeiros e scratchs. Ouça os lamentos, as brincadeiras e as histórias de realidade e opinião forte.

Ora Adoniran, ora Bezerra da Silva. Ele passa por Reginaldo Rossi e permeia entre os mais diversos tipos de rap. Ele rima, não rima. Conta, incrimina, canta e ri da desgraça. Mas principalmente ele expõe de tudo um pouco do que conhece.

Minhas favoritas? Todas. Mas se tiver que citar: Subirusdoistiozin, Mariô, Linha de Frente e Não existe amor em SP.

E o que somos nós, além a mistura infinita de ritmos e preces constantes? E o que somos nós, se não o encontro de todos esses instrumentos da afeição musical? Aos que temem por esse momento, lhes digo, com toda certeza, somos o retrato de "Nó na Orelha". Ou que seja, o álbum genial de Criolo, o retrato cuspido e escarrado de nossa realidade como massa de uma cidade confusa, como é São Paulo.

Fiquem com "Não Existe Amor em SP":

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Ui, rapidinhas! - Não sente porque o Arctic Monkeys tirou sua cadeira

12:35 Raquel 0 Comments



Lançando a nova categoria do Suculência. O "Ui, rapidinhas!". Na verdade só aconteceu porque queria MUITO comentar o novo single do Arctic Monkeys e não cabia no Twitter. Vamos lá.

Você por um acaso ouviu essa belezinha? Ouça agora, então. Depois continuamos nosso papo, ok?



E aí? Sentiu o clima "Josh Homme passou por aqui"? Certeza que ainda são resquícios da influência do ruivo do Queens of The Stone Age.

So dark! Eu amei o climão dark, amei essa coisa meio bad fucking cowboy com graminha no canto da boca e uma jaqueta de couro mais dirty que meu all star depois de um festival de hardcore. Amei a guitarra podrona.

Quero mais desse dirty country brit indie pop. Quero mais do novo Arctic Monkeys. So, Mr. Ford, libera pra nói, vai?!

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