Até tu, Brutus? - The Ides of March

18:16 Raquel 0 Comments



The Ides of March, ou Tudo pelo Poder, como a distribuidora brasileira resolveu chamar, é um filme de roteiro, direção e atuação de George Clooney.

Eu fui procurar o que era "Ides". Não achei. Aí, joguei no Google um "Ides of March" e me veio a definição que basicamente fala a minha impressão que ficou do filme. Dubialidade pura. Durante todo o filme. E é isso o conceito de Ides of March (o termo, não o filme). 

Ides vem do latim "Idus" que quer dizer "divisão ao meio". Costumava-se usar esse termo para o dia 15 de março que marcava a metade do mês no calendário romano. Nos tempos modernos, Ides of March foi o dia em que Júlio César foi esfaqueado até a morte no Senado Romano por um grupo de conspiradores liderados por Brutus, um dos aliados mais confiáveis ​​de César e um amigo de longa data.

História e roteiro se misturam nesse jogo de caráter. Fiquei pensando que as distribuidoras brasileiras de cinema adoram colocar nomes sem noção para os filmes americanos porque não "Dubialidade"? Faria muito mais sentido. Enfim.

Eu confesso que o elenco foi a primeira coisa que me chamou a atenção. Ryan Gosling e George Clooney (no time dos BBAs - Bonitos e Bons Atores) e Paul Giamatti, Phillip Seymour Hoffman (eterno Capote e Lester Bangs), Marisa Tomei e Evan Rachel Wood só podia sair coisa boa.

Depois que as letrinhas subiram, eu tinha dois comentários básicos. O primeiro é que, realmente, esse time de atores foi certeiro. E segundo que o que mais me impressionou em Ides of March foi a atualidade da coisa toda.

Siga essa receita básica: Pegue o roteiro desse filme e troque o nome dos personagens e do país por qualquer governo, sei lá, da Lituânia. Sim, você ainda vai ter a mesma história, bem fiel. A única diferença é que ele não concorreria mais a obra de ficção, mas sim como melhor documentário.

A trama é muito boa, os diálogos são inteligentes e o "deixa ficar subentendido, beibe" dá um super fôlego para a história. Não vou entrar nos meros políticos porque não me sinto capacitada a tal. Assisti o filme como uma amante da sétima arte e como, claro, eleitora. Só digo que a minha metade amante adorou o filme, a minha metade eleitora se revoltou ainda mais com os absurdos que deixamos escapar.

Agora, a minha metade RP ficou fascinada. Devo dizer, assim como "Obrigado por Fumar", sinto que Ides também deveria se tornar quase que obrigatório para um Relações-Públicas em formação.  

Resumidamente, a história traz um gerente da campanha (Gosling) de um forte candidato a presidência (Clooney) que acreditava muito que seu candidato poderia mudar o mundo, acontece que o Senador Mike Mayers teve um breve caso com a secretária de sua campanha, uma moça de 20 anos (Evan R. Wood) que engravida dele. Ao saber de toda essa podreraiada, o personagem de Gosling, Stephen faz algumas coisas não tão "honestas", digamos assim, para "jogar a merda no ventilador".

Eu confesso que senti falta do "pós-caos", ou seja, depois que Stephen vai a público contar o que sabe, (o filme acaba nesse momento). Queria ver a gestão de crise, o planejamento, a loucura. Queria ver o circo pegar fogo. 

Se pararmos para pensar, nada daquilo teria acontecido se o Senador Mayers dissesse a verdade. Bill Clinton mentiu da primeira e precisou de uma segunda chance (por livre e espontânea pressão) para falar que sim, teve relações com a moça Lewinsky. Na política, ao contrário do cenário de empresas que podem contratar 'n' especialistas para avaliar um erro técnico, o político tem apenas sua palavra. Aliás, quando votamos neles, no que estamos acreditando? Em suas palavras, que são nossa única garantia.

A relação com a imprensa durante todo o filme é um caso a parte. Marisa Tomei faz uma repórter que se aproxima dos heads da campanha para conseguir informações exclusivas. É uma valsa, ou melhor, é um tango de amor e ódio entre ambas as partes. Interessantíssimo ver o jogo de interesses, o "te amo pra sempre, te amo demais, até daqui a pouco, até nunca mais."

Não quero transformar esse post em um artigo de Relações Públicas, juro. Mas o mais interessante de observar nesse filme é a construção dos personagens, de caráter. Observar como cada um reage a uma mesma crise, como cada um se desenvolve com o desenrolar da trama. Na faculdade temos aulas de antropologia, filosofia, sociologia e psicologia e eu juro, elas não são em vão. Não estão lá para cumprir curriculo. Quando você percebe que o que você faz envolve entender pessoas diferentes com reações e maneiras diferentes, você entende sobre atendê-los e compreendê-los melhor. Isso facilita seu trabalho e dinamiza suas ações e reações. Posso dizer que Ides clareou minhas ideias.

Tem que entrar no seu must see. O filme inteiro é um tapa na cara da sociedade, daqueles que você fica até envergonhado de ser tão omitido de assuntos políticos como esses. Bem e mal se misturam, se intercalam. Há um claro "o fim justificam os meios", mas você se pergunta, será? Será que justifica eu manipular, enganar e chantagear para me vingar de algo de errado? Estamos pagando com a mesma moeda. Isso não faz de Stephen tão baixo quanto o Senador Mayers? O filme testa sua dignidade o tempo todo, seu senso de justiça fica a flor da pele.

Assiste o trailer abaixo e anota na agenda pra não esquecer de assistir ele inteiro e depois me conta o que achou!

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