Descobrindo Ben Sollee

16:48 Raquel 0 Comments



Às vezes escolhemos encher nossas vidas com arte. Arte pura e inocente. E às vezes nos deixamos sentir por batidas e assobios, por ondas de eletro-magnificiência.  Cheia de sentidos que enche nossos vazios corpos com o brilho de uma canção.

Nada nos faz parar na imensidão de uma voz que nos guia como um pastor guia suas ovelhas. Como somos carregados por um ruído que sai de todos os lados. E nos sentimos preenchidos de algo mais do que entranhas. Nos sentimos elevados e perdidos em algo que possivelmente nunca entenderemos.

Perdoem-me o raciocínio descompassado em que meto vocês dentro desse post. Não há nada mais difícil do que explicar a reação ao conhecer ruídos novos, dos quais lhe pareciam impossíveis de serem criados. Eu poderia passar horas tentando descrever o que é para mim ouvi-los, mas nem assim  seria eficaz.
E então eu conheci, por um bom acaso do destino,  o trabalho do Ben Sollee. Não sei se seria justo com ele e com nós chamar o que ele faz de trabalho. Deveríamos chamá-lo de prazer ou inspiração, ou talvez deveríamos chamá-lo exatamente de trabalho, se contarmos quanto esmero foi aplicado em sua arte.

Eu estava fuçando, de curiosa que sou, algumas músicas novas na internet, quando “esbarrei” com um vídeo de 13 minutos e pouquinho do Ben Sollee no canal da NPR Music no Youtube. A série se chama “Tiny Desk Concerts” e traz bons artistas para tocar 3 ou 4 músicas em um clima bem introspectivo. Veja bem, vejo a necessidade de lhes dizer onde e como tomei consciência de Ben Sollee antes de qualquer introdução sobre o mesmo. Acho essencial saber a quais circunstâncias se encontravam a surpresa e o surpreendido.

Sentado de maneira desajeitada com seus óculos de aros escuros e seu cello em mãos ele cantava “Hurting” e eu parei qualquer coisa que estava fazendo naquele momento para dedicar olhos, ouvidos e todos os outros sentidos exclusivamente àquela pequena janela em encantava com poucos recursos e muita aptidão. E eu me vi raptada pela melodia. Como um faminto busca por alimento eu procurava instintivamente por qualquer que fosse a informação que eu poderia colher sobre Ben.
Foram álbuns, músicas, participações. E toda a emoção que transborda do visceral “Inclusions” (2011) ou todo o ritmo que permeia o “Learning to Bend” (2008).  É como se tudo estivesse em seu estado cru e mesmo assim de refinado gosto.  Como se equilíbrio e piração fossem filhos de mesmo pai e mesma mãe. Como se eu pulasse de paraquedas para saber o verdadeiro sentido das coisas simples e fáceis. Voar para saber o que esperar no chão.

Ben arranha as cordas de seu cello para produzir uma musica que não é a erudita. Bach não toca por aqui, mas o que ouvimos é o apelo gutural de cordas que estremecem para nos mostrar o que quem as toca tem a real necessidade de dizer. Mesmo que sua boca se mantivesse fechada, saberíamos, mas ela se abre também e sua voz é suave. Hora é confortante dançar ao som de sua música, noutra é quase impossível ouvir tudo aquilo e não se apertar, por instantes que sejam, de ansiedade.
E pela primeira vez não me importa de onde vem, quantos anos tem ou coisa assim. Eu o enxergo por meio de sua música e me basta. Longe da perfeição maculada dos roqueiros que esbanjam de seu “mojo” para conquistar fidelidade auditiva.

Para ser sincera, eu não faço ideia de quanto tempo já estou sentada de frente para o computador tentando escrever algo que sirva como explicação. É muito provável que toda essa minha descrição  pouco articulada não convença a você, leitor, a procurar mais sobre Ben Sollee. Ou, exatamente o oposto. Por não prover devidamente o que deveria quando comecei esse post, seja de sua inteira vontade de ouvir por si só e tentar dizer o que eu não consegui. Lá se vão 3.343 toques e nenhum sentido.

Vou terminar como deveria ter começado, afinal. Com a música. Essa que se auto explica e me descomplica nessa confusão toda.


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