O dia em que descobri o Standing on The Rooftop

10:37 Raquel 0 Comments



Em minhas tardias obsessões pela França e sua cultura, caí na espiral que é a música francesa. Tudo que eu conhecia era La Vie em Rose e Edith Piaf. E, de uns tempos para cá, conheci algumas coisas mais contemporâneas, como Cocoon e a Zaz. Além da ex-primeira dama, Carla Bruni, que de italiana, mesmo, lhe sobrou pouca coisa.

E conheci também Madeleine Peyroux. Não muito, confesso. Como estava em uma fase “quero ouvir o idioma francês”, fui seca pensando que a Dona Peyroux cantava assim. Doce ilusão. Acho que foi por isso que não me aprofundei na obra de Madeleine.

Mas, uns meses atrás, fazendo uma das coisas que mais gosto, que é me perder dentro de alguma livraria, enquanto ouvia uma prévia do Bublé no Madison Square Garden, um álbum de cores escuras e de uma simplicidade me chamou atenção. A capa trazia uma moça sentada sobre um baú acompanhada por um simpático cão da raça Whippet e, em letras garrafais ao lado, lia-se “Madeleine Peyroux Standing on The Rooftop”.

Eu poderia, baseada em minha experiência anterior, ter deixado para lá. Continuado a ouvir o Michael e depois o Miles Davis que aguardava em minhas mãos. Mas larguei tudo e passei o código de barras do Standing on The Rooftop para ouvir a prévia que a livraria me oferecia. E, de repente, 30 segundos pareciam nada.

O álbum tem um cover de Martha, My Dear como abertura. Um cover bem feito e único. Lindo. Claro, como fã confessa de Beatles, já havia me conquistado. Porque fazer um cover de Beatles é encarar de frente o “ame-o ou odeie-o”, não há meios termos. Ou é bom e agrada, ou não.


Deixei a livraria com a promessa de ouvir o álbum todo, com mais atenção e tempo. Mas fui embora feliz com a descoberta.

Assim que tive a oportunidade, mergulhei no Standing. E o que vem depois de Martha, My Dear é descoberta atrás de descoberta. A faixa que se segue é a The Kind You Can’t Afford. Com uma pegada deliciosa, jocosa. É quase um Can’t Buy Me Love. A essência, pelo menos, é a mesma. A canção é uma ode a boêmia, que preza pelo amor e não pelo valor do dinheiro. Dá vontade de sair dançando no meio do trânsito, distribuindo beijos e abraços aos executivos atarefados numa segunda-feira de manhã.

Eu poderia descrever faixa a faixa. Estrofe a estrofe, detalhando cada percepção. Mas essa não é minha intenção, de longe. O que quero aqui é incentivar quem lê essa resenha, a ouvir este álbum. A apreciá-lo, degustá-lo e digeri-lo, minuto a minuto.

Quero que sintam a essência magnífica de um álbum bem conduzido, escrito, produzido e gravado. De um álbum lindamente concebido, como um filho desejado.

Standing on The Rooftop é o sexto álbum de Peyroux, lançado em junho de 2011. Puro jazz, com pitadas de folk francês. Além do cover de Beatles, vale ainda destacar as versões de Madeleine para a I Threw It All Away do Bob Dylan e a Love in Vain do Robert Johnson. Tudo a seu modo, tudo com a calmaria que a voz macia da cantora que preenche melodias leves.

Um daqueles álbuns que ouvimos em looping. Perfeito para um fim de tarde, sob a brisa fresca e o céu alaranjado que escapa à monotonia diária. Perfeito para não acabar.

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